Iracema (ou Iracema, a virgem dos lábios de mel) é um romance da literatura romântica brasileira publicado em 1865 e escrito por José de Alencar, fazendo parte da trilogia indianista do autor. Os outros dois romances pertencentes à trilogia são O guarani e Ubirajara.
Foco Narrativo
A obra é escrita em terceira pessoa, temos um narrador-observador, isto é, um narrador que caracteriza as personagens apenas a partir do que pode observar de seus sentimentos e de seu comportamento, como se percebe no trecho: "O sentimento que ele (Martim) pôs nos olhos e no rosto não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara." (Capitulo 2), especialmente no momento em que o narrador coloca em dúvida a reação emocional de Martim, flechado por Iracema. O narrador conta a história do ponto de vista de Iracema, isto é, do índio privilegiando os seus sentimentos e não os de Martim, que representa o branco colonizador.
Personagens
Iracema: Alem, muito alem daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema; a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da Graúna (é o pássaro conhecido de cor negra luzidia) e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati (pequena abelha que fabrica delicioso mel.) não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mas rápida que a ema selvagem; índia da tribo tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. Ela guarda o segredo da jurema (arvore meã).
Martim: Seu nome na língua dos tabajaras significava “filho de guerreiro” tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Com ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo. Ele era dos guerreiros brancos, que levantaram a taba nas margens do Jaguaribe (maior rio da província: tirou o nome da quantidade de onças que povoavam suas margens), perto do mar, onde habitam os pitiguaras (grande nação de índios que habitava o litoral da província e estendia-se desde o Parnaíba ate o rio grande do norte), inimigos de tua nação. Ele tinha o sangue do grande povo, que primeiro viu as terras da pátria dos tabajaras.
Araquém: Pai de Iracema, pajé da aldeia; ele gostava de meditar sobre os sagrados ritos de tupã. Ele acreditava que teria sido tupã que enviou o branco guerreiro para a aldeia (Martim), ele tinha compridos e raros cabelos brancos e seus os olhos eram cavos e suas rugas profundas.
Caubi: Irmão de Iracema, ele tinha o ouvido sutil que pressente a boicininga (é a cobra cascavel) entre os rumores da mata; e o olhar do oitibó (é uma ave noturna, espécie de coruja.) que vê melhor nas trevas. Ele era guerreiro e caçador.
Irapuã: O mais moço dos guerreiros. O gavião paira nos ares. Quando a nambu levanta, ele cai das nuvens e rasga as entranhas da vitima. O guerreiro tabajara, filho da serra, era como o gavião. Traiçoeiro, ciumento, corajoso, valente, um grande guerreiro. Ele era o chefe dos tabajaras.
Andira: Seu nome significa “morcego”, ele era um velho guerreiro; irmão do pajé e ele foi um herói que bebeu mais sangue na guerra do que já beberam outros guerreiros. Todos quantos guerreiros alumiam agora a luz de seus olhos, ele viu mais combates em sua vida, do que luas lhe despiram a fronte. Ele nunca temeu que o inimigo pisasse a terra de seus pais; mas alegravam-se quando ele vinha, e sentia com o faro da guerra a juventude renascer no corpo decrépito como a arvore que renasce com o sopro do inverno.
Poti - Guerreiro destemido, irmão do chefe dos pitiguaras. Prudente, valente, audaz, livre, ligeiro e muito vivo. Tinha uma grande amizade por Martim a quem considerava irmão e de quem era aliado.
Jacaúna – O grande Jacaúna, o chefe dos pitiguaras, senhor das praias do mar. O seu colar de guerra, com os dentes dos inimigos vencidos, era um brasão e troféu de valentia. Era corajoso, exímio guerreiro, forte. Seu nome tem o significado de "jacarandá-preto".
Batuireté - Avô de Poti, maior chefe. Tinha a cabeça nua de cabelos, cheio de rugas, Morava numa cabana na Serra do Maranguab (sabedor de guerra). Batuireté significa "valente nadador".
Jatobá - Pai de Poti. Conduziu os pitiguaras a muitas vitórias. Robusto e valente.
Moacir - O nascido do sofrimento, o "filho da dor". É, na alegoria de Alencar, o primeiro brasileiro - fruto da união do branco com o índio. Mal nasceu já exilava da terra que o gerou.
Características
O tempo
O encontro da natureza (Iracema) e da civilização (Martim) projeta-se na duplicidade da marcação temporal. Há em Iracema um tempo poética, marcada pelos ritmos da natureza e pela percepção sensorial de sua passagem (as estações, a lua, o sol, a brisa), e que predomina no corpo da narrativa, e um tempo histórico, cronológico. O tempo histórico situa-se nos primeiros anos do século XVII, quando Portugal ainda estava sob o domínio espanhol (União Ibérica), e por forças da união das coroas ibéricas, a dinastia castelhana ou filipina reinava em Portugal e em suas colônias ultramarinas. A ação inicia-se entre 1603 e o começo de 1604, e prolonga-se até 1611. O episódio amoroso entre Martim e Iracema, do encontro à morte da protagonista, dá-se em 1604 e ocupa quase todo o romance, do capítulo II ao XXXII.
O espaço
A valorização da cor local, do típico, do exótico inscreve-se na intenção nacionalista de embelezar a terra natal por meio de metáforas e comparações que ampliam as imagens de um Nordeste paradisíaco, primitivo. É o Nordeste das praias e das serras (Ibiapaba), dos rios (Parnaíba e Jaguaribe) e da Bica do Ipu ou Bica da Iracema..
Enredo
Durante uma caçada, Martim se perdeu dos companheiros pitiguaras e se pôs a caminhar sem rumo durante três dias. No interior das matas pertencentes à tribo dos tabajaras, Iracema se deparou com Martim. Surpresa e amedrontada, a índia feriu o branco no rosto com uma flechada. Ele não reagiu. Arrependida, a moça correu até Martim e ofereceu-lhe hospitalidade, quebrando com ele a flecha da paz.
Martim foi recebido na cabana de Araquém, que ali morava com a filha. Ao cair da noite, Araquém havia deixado seu hóspede sozinho, para que ele fosse servido pelas mais belas índias da tribo. O jovem branco estranhou que entre elas não estivesse Iracema, a qual lhe explicou que não poderia servi-lo porque era quem conhecia o segredo da bebida oferecida ao pajé e devia prepará-la.
Naquela noite, os tabajaras recepcionavam festivamente seu grande chefe Irapuã, vindo para comandar a luta contra os inimigos pitiguaras. Aproveitando-se da escuridão, Martim resolveu ir-se embora. Ao penetrar na mata, surgiu-lhe à frente o vulto de Iracema.
Visivelmente magoada, ela o seguira e lhe perguntou se alguém lhe fizera mal, para ele fugir assim. Percebendo sua ingratidão, Martim se desculpou. Iracema pediu-lhe que esperasse, para partir, a volta, no dia seguinte, de Caubi, que o saberia guiar pela mata. O guerreiro branco voltou com Iracema e dormiu sozinho na cabana.
Na manhã seguinte, incitados por Irapuã, os tabajaras se prepararam para a guerra contra os pitiguaras, que estavam permitindo a entrada dos brancos. Martim foi passear com Iracema. Ele estava triste; ela lhe perguntou se eram saudades da noiva, que deixara para trás. Apesar da negativa de Martim, a moça o levou para um bosque silencioso e prometeu fazê-lo ver a noiva; deu-lhe gotas de uma bebida que ela preparou.
Após tomá-las, Martim adormeceu e sonhou com Iracema; inconsciente, ele pronunciou o nome da índia e a abraçou; ela se deixou abraçar e os dois se beijaram. Quando Iracema ia se afastando, apareceu Irapuã, que declarou amor à assustada moça e ameaçou matar Martim. Diante da reação contrária dela, Irapuã se foi, ainda mais apaixonado. Apaixonada, porém, estava Iracema por Martim e passou a ficar preocupada pela vida dele.
Na manhã seguinte, Martim achou Iracema triste, ao anunciar-lhe que ele poderia partir logo. Para fazê-la voltar à alegria, ele disse que ficaria e a amaria. Mas a índia lhe informou que quem se relacionasse com ela morreria, porque, por ser filha do pajé, guardava o segredo da Jurema. Ambos sofriam com a idéia da separação. Seguindo Caubi, Martim partiu triste, acompanhado por Iracema, também triste. Com um beijo, os dois se despediram e o branco continuou sua caminhada somente com Caubi. Irapuã, à frente de cem guerreiros, cercou os caminhantes para matar Martim. Caubi se opôs e soltou o grito de guerra, ouvido na cabana por Araquém e pela filha.
Esta correu e assistiu à cena; Irapuã ameaçava Martim, que se mantinha calmo. A moça quis persuadi-lo a fugir; ele não aceitou a idéia, resolveu enfrentar Irapuã, apesar de Caubi provocar o enciumado tabajara para lutar com ele. Quando Irapuã e Caubi iam começar uma luta corpo a corpo, ouviu-se o som de guerra dos pitiguaras, que vinham atacar os tabajaras. Chefiados por Irapuã, os índios correram para enfrentar o inimigo. Só Iracema e Martim não se movimentaram.
Como não encontrasse os pitiguaras – provavelmente escondidos na mata, Irapuã achou que o grito de guerra fora um estratagema usado por Iracema para afastá-lo de Martim. Então foi procurá-lo na cabana de Araquém. Protegendo seu hóspede, o velho pajé ameaçou matar Irapuã se ele levantasse a mão contra Martim. Para afastar o irado chefe, Araquém provocou o ronco da caverna que os índios acreditavam ser a voz de Tupã quando discordava do que acontecia. Na verdade, esse ronco era um efeito acústico que Araquém forjava. Mediante isso, Irapuã se afastou.
No silêncio da noite, ouviu-se na cabana de Araquém o grito semelhante ao de uma gaivota. Iracema disse ser o sinal de guerra dos pitiguaras; Martim reconheceu o som que emitia seu amigo Poti. Iracema ficou com medo porque a fama da bravura de Poti era conhecida e temida: ele estaria vindo para libertar seu amigo, destruindo os tabajaras? A moça ficou triste, mas garantiu fidelidade a Martim, mesmo à custa da morte de seus irmãos de raça. O branco tranqüilizou-a, afirmando que fugiria, para evitar o conflito.
A índia foi encontrar-se com Poti para lhe dizer que Martim iria com ele, escondido, a fim de evitar um conflito das tribos inimigas. Antes de sair, ela ouviu do pai, em segredo, a recomendação de que, se os comandados de Irapuã viessem matar Martim, ela o escondesse no subterrâneo da cabana, vedado por uma grande pedra.
Não era prudente Martim afastar-se às claras porque poderia ser seguido. Nisso, apareceu Caubi para alertar a irmã e Martim de que os tabajaras tencionavam matar o branco. Iracema pediu ao irmão que levantasse a pedra para ela e Martim entrassem no esconderijo e que ele ficasse de guarda. Irapuã chegou à porta da cabana, acompanhado de seus subordinados, todos bêbados, e discutiu com Caubi. Nesse instante, reboou o trovão de Tupã. O vingativo chefe não se acalmava. Reboou mais uma vez o trovão, que os índios entenderam como sendo a ameaça de Tupã. Cercaram o chefe e o levaram de lá, amedrontados. No interior da caverna, Iracema e Martim ouviram a voz de Poti, embora sem vê-lo. Ele lhes declarou que estava vindo sozinho para levar Martim, seu irmão branco. Por sugestão de Iracema, ficou combinado que Martim fugiria ao encontro de Poti só na mudança da lua, ocasião em que os tabajaras estariam em festa e assim ficaria mais fácil os dois evitarem o encontro com o irado Irapuã. À noite, na cabana, ausente Araquém, Martim, ao lado de Iracema, não conseguia dormir: desejava-a, mas ela era proibida. Então, ele lhe pediu que trouxesse vinho para apressar o sono. Dormiu e sonhou com Iracema, chamando-a; ela acorreu acordada. Ainda dormindo, sonhou que se abraçavam, sendo que Iracema o abraçou de verdade. Na manhã seguinte, Martim se afastou da moça, dizendo que só podia tê-la em sonho. Ela guardou o segredo do abraço real e foi banhar-se no rio. Mal sabia Martim que Tupã havia acabado de perder sua virgem.
No final da tarde, quando a lua apareceu, os tabajaras se reniram em torno do pajé, levando-lhe oferendas. Iracema dirigiu-se à cabana do pai para buscar Martim e conduzi-lo até Poti que o aguardava escondido a fim de levá-lo, livrando-o de Irapuã. Iracema os acompanhou até o limite das terras tabajaras.
Quando Martim insistiu em que ela retornasse para a tribo, ela lhe revelou que não poderia fazer isso, porque já era sua esposa. Surpreso, Martim ficou sabendo que tinha sido realidade o que sonhara. Ao escurecer, interromperam a caminhada e Martim passou a noite na rede com Iracema.
Ao raiar da manhã, Poti, preocupado, os chamou, alertando que os tabajaras já estavam na sua perseguição, informação que ele colheu escutando as entranhas da terra. Envergonhado, Martim pediu que Poti levasse Iracema e o deixasse só, pois ele merecia morrer. O amigo disse que não o largaria. Iracema apenas sorriu e continuou com eles. Irapuã e seus comandados chegaram ao local onde estavam os fugitivos. Acorreram também os pitiguaras, sob a chefia de Jacaúna. Travou-se o inevitável combate. Jacaúna atacou Irapuã; Caubi, agora com ódio do raptor de sua irmã, atacou Martim, mas, a pedido de Iracema, o branco simplesmente se defendeu, pois ela disse que, se Caubi tivesse que morrer, isso aconteceria pelas mãos dela. Então, Martim deixou Caubi por conta de Poti, que já havia matado vários tabajaras, e enfrentou Irapuã, afastando Jacaúna.
Biografia do Autor
José de Alencar

José Martiniano de Alencar (Fortaleza, no bairro Messejana, 1 de maio de 1829 - Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1877)foi um jornalista, político, advogado, orador, crítico, cronista, polemista, romancista e
dramaturgo brasileiro.
Formou-se em Direito, iniciando-se na atividade literária no Correio Mercantil e Diário do Rio de Janeiro. Foi casado com Ana Cochrane. Era filho do senador José Martiniano Pereira de Alencar, irmão do diplomata Leonel Martiniano de Alencar, barão de Alencar, e pai de Augusto Cochrane de Alencar.
1829 – José Martiniano de Alencar nasce em Mecejana, perto de Fortaleza, ceará, a 1◦, de maio.
1830 - Transfere-se com a família para o Rio de Janeiro.
1838 - Transfere-se com a família para o Rio de Janeiro.
1840- Esta matriculada no colégio de Instrução Elementar.
1846- Ingressa na faculdade de direito do Largo de São Francisco, em São Paulo.
1848- Transfere-se para a faculdade de direito de Olinda.
1850- Em São Paulo novamente; forma-se em direito.
1854- Inicia, no Rio, sua colaboração no Correio Mercantil.
1856- Trabalha como redator-chefe do Diário do Rio de Janeiro. Publica as cartas sobre a confederação dos tamoios. Polêmica com Gonçalves de Magalhães. Estreia na ficção com o romance Cinco Minutos.
1857- Publica com grande repercussão O Guarani, primeiro em folhetins, depois em livro.
1860- Falece o pai do escritor. José Martiniano de Alencar - que fora padre antes de casar-se, e depois, revolucionário e político influente.
1861- Elege-se deputado. Reeleito em várias legislaturas subsequentes.
1865- Nasce o seu filho Augusto de Alencar
1868- Ministro da Justiça durante dois anos no Gabinete Conservador.
1870- Abandona a carreira política, magoado com o Imperador Pedro II.
1877- vítima de tuberculose viaja para a Europa, tentando curar-se. Falece no Rio de Janeiro, a 12 de dezembro.
Bibliografia do Site
http://pt.wikipedia.org/wiki/Iracema
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_de_Alencarhttp://www.mundovestibular.com.br/articles/543/1/IRACEMA---Jose-de-Alencar-Resumos/Paacutegina1.html
Equipe
Narrador: Marylin Santos
Personagens: Fernanda Assunção
Tempo: Gustavo Matos
Espaço: Andreza Souza
Enredo: Thalyta Sara
Biografia do Autor: Fernanda Assunção
Blog
Design: Gustavo Matos
Postagem: Thalyta Sara